A incidência de câncer na população brasileira está cada vez mais precoce. O alerta, no Dia Nacional de Combate ao Câncer, lembrado neste dia 27 de novembro, é da médica especialista Lia Rachel Gáspari Noda, coordenadora do Com (Centro de Oncologia da Santa Casa de Marília). Segundo ela, a patologia está entre as doenças degenerativas que mais crescem, em novos casos, e surpreende até os mais jovens.
Há um ano o servente de pedreiro Marcos Aparecido Melari, de 41 anos, foi diagnosticado com um tumor na garganta. Depois de cirurgia, quimioterapia e radioterapia, ele ainda cumpre uma rotina de consultas e exames na Santa Casa de Marília. A irmã e companheira de luta, Maria Aparecida Melari, afirma que tem sido difícil para a família, porém a qualidade da assistência, pela rede pública de saúde, minimiza o sofrimento e alimenta as esperanças.
No segundo maior complexo de saúde da região, o tratamento é especializado, multidisciplinar e, o mais importante: humanizado. O ambulatório de oncologia da Santa Casa de Marília encerrou o primeiro semestre deste ano com 4.739 fichas de atendimento abertas pelo SUS (Sistema Único de Saúde). O índice da rede pública corresponde a mais de 84% do total atendido pelo Com.
Com mais qualidade na assistência, as esperanças aumentam. A dona-de-casa Corina Rúbia Rodrigues de Castro, de 49, conseguiu vencer a doença duas vezes, em um intervalo de treze anos. Durante a luta, ela perdeu a vaidade, os cabelos e a resistência física. Corina só não perdeu as esperanças e a vontade de viver. “Quando mais precisei, Ele (Deus) esteve comigo. Passei por quimio, radioterapia e cirurgia. Vi de perto o drama de muita gente, perdi amigos no hospital. Nos piores momentos, afirmei para mim mesma que queria viver”, relata.
Segundo a dona-de-casa, o atendimento especializado, com equipes multidisciplinares, foi fundamental para sua recuperação. “Desde a primeira vez que entrei na Santa Casa (paciente da rede pública), não vi diferença entre particular ou não. Os médicos, os funcionários, a estrutura, tudo colaborou para a minha vitória”, garante Corina.
A atuação da Santa Casa de Marília no combate ao câncer começou há cerca de 20 anos, mas os principais avanços ocorreram na última década. No hospital, funciona o Com (Centro de Oncologia de Marília), que atualmente dispõe de oncologia clínica e cirúrgica, além do tratamento quimioterápico.
O serviço é referenciado para atender pacientes de 62 municípios, área de abrangência da DRS-IX (Direção Regional de Saúde). Oncopediatras, mastologistas, cirurgiões plásticos, fonoaudiólogos, assistentes sociais e psicólogos integram o serviço. No total são cinco médicos, dois enfermeiros, cinco auxiliares de enfermagem e vários profissionais de apoio. Em cada etapa do tratamento, o paciente encontra o suporte técnico e a assistência necessária.
Mal crescente – De acordo com dados do Inca (Instituto Nacional do Câncer), são esperados no Brasil este ano 257.870 novos casos de câncer em homens e 260.640 entre mulheres. A estimativa é que o câncer de pele do tipo não melanoma (134 mil casos novos) será o mais incidente na população brasileira, seguido pelos tumores de próstata (60 mil), mama (53 mil), cólon e reto (30 mil), pulmão (27 mil), estômago (20 mil) e colo do útero (18 mil).
A oncologista Lia Rachel Gáspari Noda relata que cólon e próstata são os mais frequentes no atendimento da Santa Casa de Marília. Assim como outras doenças degenerativas, a patologia aumenta progressivamente, com o envelhecimento da população.
Apesar do fator idade, a médica também chama a atenção para a incidência de tumores em pessoas mais jovens. Estresse, exposição a produtos químicos, hábitos de vida e alimentação inadequadas ajudam a explicar este quadro. “As pesquisas progridem na mesma proporção, podemos controlar melhor a doença, porém a prevenção e o diagnóstico precoce continuam sendo as principais formas de manter o controle da doença”, afirma Lia. No caso do câncer de mama, por exemplo, 90% dos casos podem ser curados se houver rápida detecção.
Foi o caso de Corina. Graças ao autoexame e diagnóstico rápido da doença, ela conseguiu reduzir as consequências do câncer de mama. “Passei por uma operação para remoção do nódulo, depois tive que fazer a reconstrução, com um cirurgião plástico. Hoje faço acompanhamento a cada seis meses. Fisicamente estou bem e espiritualmente melhor ainda”, afirma Corina.
Até 2030, doença vai atingir 27 milhões por ano, diz OMS
As projeções são preocupantes. A OMS (Organização Mundial da Saúde) estima que, até 2030, o mundo terá 27 milhões de novos casos de câncer, 17 milhões de mortes e 75 milhões de pessoas em tratamento.
A médica destaca ainda uma curiosidade: alguns tumores podem ser ‘mais agressivos’ em pessoas mais jovens. Um desafio a mais para os pesquisadores. “Tem havido muitos estudos sobre a genética da célula cancerosa. Uma das preocupações é produzir medicamentos mais eficazes, com menos efeitos colaterais”, destaca a médica.
Para a oncologista, a especialidade exige condicionamento psicológico do médico. “A doença ainda tem alta incidência e alta letalidade. Nosso trabalho é lutar (com o paciente) pela vida. Nem sempre isso é possível e em muitos casos estamos cientes de que estamos trabalhando para aliviar seu sofrimento”, afirma Lia.
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