Nossas Santas Casas e hospitais filantrópicos abrem suas portas para atender a população e respondem, juntas, por cerca de 45% de todas as internações do SUS (Sistema Único de Saúde) no país, além de concentrar a maior parte das cirurgias oncológicas, neurológicas, transplantes e outras de alta complexidade do sistema público. Apesar de sua relevância, as entidades geridas pela sociedade civil organizada vêm sofrendo cada vez mais com a defasagem da tabela de procedimentos e a falta de uma política de valorização. Por isso a importância da adesão do movimento “Tabela SUS! Reajuste Já”, que pretende paralisar os atendimentos por um dia (8 de abril) para demostrar a gravidade do subfinanciamento.
Mesmo com as dificuldades enfrentadas, em nossa experiência à frente da Santa Casa de Misericórdia de Marília temos experimentado um ciclo virtuoso de trabalho e resultados. O comprometimento da irmandade, dos diretores, dos funcionários e demais colaboradores tem contribuído, ao longo do tempo, para consolidar uma instituição de excelência, economicamente equilibrada e, sobretudo, à serviço de quem mais precisa.
Como membro da diretoria da Fehosp (Federação das Santas Casas e Hospitais Filantrópicos do Estado de São Paulo), observamos que os avanços em cada hospital federado são conquistados com muito trabalho. Rendemos homenagens a cada um que fez parte desse processo, construindo instituições filantrópicas dedicadas ao paciente, com comprometimento de seus profissionais, participação nos conselhos, colegiados e grupos de voluntários.
No caso da Santa Casa de Marília, nossa percepção de bons resultados nos orgulha, mas não nos envaidece. Também não nos aliena. Em 2012 tivemos muitos percalços e nos vemos na obrigação de informar que parte do caminho trilhado foi tortuosa. Por interesses difusos à saúde pública, no ano que passou a Santa Casa de Marília sofreu, injustificadamente, com o atraso nos repasses de verbas federais, retidas no âmbito municipal.
Importante esclarecer que os recursos destinados aos prestadores de serviços do SUS (Sistema Único de Saúde) passam, obrigatoriamente, pelo gestor municipal. O mais temerário resultado dos atrasos é a precarização dos serviços, o que só não aconteceu graças à capacidade de gestão da nossa equipe técnica.
Cabe esclarecer ainda ao leitor que a pontualidade dos repasses é não apenas uma obrigação moral, como legal, cujo desrespeito pode acarretar em sanções judiciais. No início de cada mês, os recursos dos convênios remuneram serviços já prestados, portando, custeiam insumos que já foram aplicados, profissionais que aguardam seus pagamentos e permitem a aquisição de novos suprimentos, para a continuidade da prestação de serviço.
Neste aspecto, felizmente 2012 terminou. Com ele, esperamos que termine também um período que nos trouxe inquietações. No âmbito da administração hospitalar, atraso em repasses traz consequências de médio e longo prazo, uma vez que compromete o planejamento da instituição. Para evitar esse efeito nocivo, mantivemos nossa programação trienal e traçamos em dezembro último o Plano Estratégico da Santa Casa de Marília, um importante instrumento que irá auxiliar os gestores na construção do hospital que desejamos e nossa população merece.
Como parceira da rede pública, aliada da política de saúde universal e gratuita, a Santa Casa de Marília confia na prevalência do bom senso nas relações institucionais. Esperamos um 2013 de mais sensibilidade e comprometimento, sobretudo daqueles que tem a responsabilidade de cumprir e fazer cumprir as leis que regem nosso SUS (Sistema Único de Saúde).
Só assim esse modelo de saúde pública, reconhecido como um dos mais eficientes do mundo, será respeitado e compreendido pela população. Respeitados os compromissos morais e legais dos gestores públicos, a nós, dirigentes de hospitais filantrópicos, fica a responsabilidade de trabalhar por instituições de excelência, economicamente equilibradas e, sobretudo, à serviço de quem mais precisa.
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Milton Tédde é provedor da Santa Casa de Marília e diretor administrativo financeiro da Fehosp - Federação das Santas Casas e Hospitais Filantrópicos do Estado de São Paulo
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