Equipes da Santa Casa de Marília e Hospital das Clínicas difundem informação durante a “Praça da Cidadania”, evento promovido pela prefeitura e Femsa Coca-Cola
Em alguns temas, a sensação de conhecimento concorre com a verdadeira informação. É o caso da doação de órgãos tecidos, um assunto considerado tabu para muitos ou, equivocadamente, “dominado” por outros. Mitos e até leis superadas só atrapalham. A realidade mostra que, na prática, a maior parte da população desconhece os procedimentos para a doação, o que o cidadão deve fazer quando optar por ser doador e até mesmo as dimensões do problema da insuficiência de órgãos no país, diante do elevado número de pessoas que necessitam.
De forma simples e direta, estas questões foram abordadas pela equipe que desenvolve a Campanha de Doação de Órgãos e Tecidos de Marília, integrada pela Santa Casa de Misericórdia de Marília e o Spot (Serviço de Procura e Órgãos e Tecidos) do HC (Hospital das Clínicas), durante a “Praça da Cidadania”, evento promovido no último sábado, dia 09, no Poliesportivo “Octávio Barreto Prado”, o Tatá, no bairro Nova Marília.
O relatório de doações do serviço especializado, que atende parte do interior paulista, indica que de janeiro a julho de deste ano foram apenas seis doadores de múltiplos órgãos, sendo coletado um pâncreas, seis fígados e 12 rins. Duas famílias doaram osso e córneas. Já as doações específicas de córneas somaram 102.
O dia nacional de luta para elevar as doações é 27 de setembro, mas o trabalho começa muito antes. A terapeuta ocupacional da Santa Casa Izabel Travitzky faz parte da equipe que tem trabalhado o tema. Ela integra o CIHDOTT (Comissão Intra-Hospitalar de Doação de Órgãos e Tecidos para Transplante), porém percebeu que o trabalho pedia ainda mais envolvimento e uma estratégia “mais agressiva”, para geração de resultados e elevação dos transplantes.
Durante a “Praça da Cidadania”, quando foram oferecidos dezenas de serviços à comunidade, a equipe distribuiu material educativo e levou informação para cerca de 300 pessoas. “Essa iniciativa da prefeitura com a Coca-Cola foi muito importante porque é difícil para as pessoas da periferia, por questões financeiras e outros motivos, virem ao centro e terem contato com muitos dos serviços que foram oferecidos ali. No que diz respeito a ações como a nossa, melhor ainda. O interesse é grande. Eles vêm até nós, porque estão à vontade e sentem-se valorizados”, disse Izabel.
Nos dois últimos anos, os voluntários reuniram profissionais de saúde, estudantes da área, associações de idosos, clubes de serviço e grupos de jovens para promover caminhadas, entre o hospital filantrópico e o HC. Ao som de músicos voluntários, animados versos relacionados ao tema da doação.
Também foram promovidas palestras com especialistas em captação e transplantes, série de entrevistas em veículos de comunicação, distribuição de material educativo, concursos culturais para crianças e “pedágios” nos hospitais, com o objetivo de quantificar o grau de conhecimento dos próprios profissionais sobre o tema. O resultado demostrou que falta informação sobre os procedimentos e muitas vezes até o trabalhador da saúde pode, sem querer, desinformar um cidadão sobre a questão.
Este ano, as ações já começaram e envolvem até a confecção de um gibi, ilustrado por um jovem de apenas 16 anos. O material conta com apoio da iniciativa privada e será disponibilizado a estudantes e comunidade em geral. “Foi uma forma que encontramos de dialogar, principalmente, com as crianças”, disse Deborah Milani, assistente administrativa do setor da Hotelaria e voluntária do programa.
Mitos sobre a doação de órgãos:
Já sou um doador. Está no meu RG!
A inscrição na carteira de identidade e de motorista que mostrava a opção do indivíduo e, na sua ausência, a presunção de que se tratava de um doador, não tem mais valor desde o ano 2000. Passamos do sistema de doação presumida para o que chamamos de doação consentida. Mesmo que o documento seja da época e tenha alguma inscrição, a doação só poderá ser feita mediante consentimento da família. Por isso, converse com a sua família sobre o assunto. Deixe claro o que você pensa sobre a doação de órgãos e tecidos.
Após a morte encefálica, a pessoa pode ainda estar viva?
Morte encefálica é a definição legal de morte. A resolução 1.480 do CFM (Conselho Federal de Medicina) considera morte encefálica a parada total e irreversível das funções neurológicas. É a completa e irreversível parada de todas as funções do cérebro. Isto significa que, como resultado de severa agressão ou ferimento grave no cérebro, o sangue que vem do corpo e supre o cérebro é bloqueado e o cérebro morre.
Pode ser apenas coma!
Não. O paciente em coma está médica e legalmente vivo e pode respirar quando o ventilador é removido e/ou ter atividade cerebral e fluxo sanguíneo no cérebro.
Há certeza sobre a morte encefálica?
Há um rigoroso procedimento para que um paciente seja considerado em morte encefálica. São feitos exames clínicos e complementares (mais comum é o eletrocefalograma e o doopler). Eles podem confirmar a ausência da atividade cerebral. Em muitos casos, os testes são duas vezes realizados, com intervalo de diversas horas, para assegurar um resultado exato.
Se está morto, por que seu coração ainda bate?
O paciente em morte encefálica, até a decisão da família, recebe ventilação mecânica. Enquanto o coração tem oxigênio, ele pode continuar a bater. O ventilador providencia oxigênio para sua manutenção. Sem este socorro artificial, o coração deixaria de bater em instantes.
A hora da morte considera a encefálica ou desligamento dos aparelhos?
Uma vez dado o diagnóstico de morte encefálica, o paciente é declarado legalmente morto. Esta é a hora que deve constar no atestado de óbito. A hora da morte não é a hora da retirada do ventilador.
O que acontece em seguida à declaração de morte encefálica?
Em muitos casos, a morte encefálica resulta de um acidente repentino ou ferimento. Um profissional da saúde falará com a família sobre certas decisões que você precisa tomar nesse momento. Dentre essas decisões uma seria a de remover o ventilador e a outra seria a doação dos órgãos e/ou tecidos.
Trata-se de um momento de muita dor, mas lembre-se que lamentavelmente seu ente querido já está legalmente morto e não será a remoção do ventilador que irá causar a sua morte.
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